quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

ILUSTRAÇÃO

 Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo! Isaías 5:20

Cosmovisão” é uma das palavras que são propagadas como sendo de grande importância. Mas, como parece que tudo vai bem na vida sem a necessidade de se depender dela, há a tentação de acreditar que sua importância é superestimada. É verdade; passear com um amigo, discutindo sobre isso ou aquilo, raramente ocasiona uma conversa sobre os primeiros princípios da lógica ou de paradigmas éticos concorrentes. Mas permita que esse passeio o leve pela Blutstraße (estrada de sangue) até o Memorial Buchenwald na Alemanha, e então as visões de mundo assumirão um significado assustador. Buchenwald, juntamente com outros campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, fazia parte do mecanismo de extermínio nazista dedicado a matar judeus, dissidentes políticos, ciganos e outros “indesejáveis”. 4, 14:58; jo 2:19, 10:17 e 18).

Viktor Frankl, sobrevivente do Holocausto, explica as origens desse pesadelo: “Se apresentarmos a alguém um conceito de ser humano que não é verdadeiro, podemos muito bem corrompê-lo. [...] Eu conheci o estágio mais elevado dessa distorção em meu segundo campo de concentração, Auschwitz. As câmaras de gás de Auschwitz foram a consequência última da teoria de que o ser humano não é senão o produto da hereditariedade e do meio, ou, como os nazistas costumavam dizer, do ‘Sangue e Solo’. Estou absolutamente convencido de que, em última análise, as câmaras de gás de Auschwitz, Treblinka e Maidanek foram preparadas não em algum ministério [departamento] em Berlim, mas nas mesas e nas salas de aula de cientistas e filósofos niilistas” (Viktor Frankl, The Doctor and the Soul: From Psychotherapy to Logotherapy [O Médico e a Alma: Da Psicoterapia à Logoterapia]. Nova York: Random House, 1986, p. xxvii).

É por isso que a cosmovisão é importante. Ela pode moldar uma realidade na qual a luz se torna escuridão, e a escuridão, luz; na qual o mal é bem e o bem é mal (Is 5:20). É ingênuo e tacanho explicar atrocidades simplesmente chamando os autores de “monstros” ou algum outro epíteto desumanizador, sem entender por que as pessoas executam determinadas ações. Muitos “monstros” da história demostravam amor por sua esposa e filhos, contavam piadas aos amigos, balançavam seus netos sorridentes e continuavam a se levantar todas as manhãs para realizar as atrocidades do dia. É por isso que as visões de mundo são importantes. E é por isso que a resposta para a pergunta do salmista, “que é o homem, que dele te lembres?” (Sl 8:4), deve sempre começar com: “Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1:27

Existe alguma religião ou sistema filosófico que valorize a vida humana mais do que a proposição do cristianismo de que os seres humanos são amados e foram criados segundo a semelhança divina? Essa verdade está vinculada à crença de que os cristãos, inclusive os adventistas do sétimo dia, são, de certo modo, os protetores do valor e da dignidade do ser humano e devem atacar visões de mundo concorrentes, organizando uma visão elevada do que significa ser humano.

Alguns podem pensar que é uma ilusão de grandeza presumir que a dignidade da humanidade precisa ser defendida no século 21. Mas o (pós) secularismo tem dificuldade em fundamentar o valor humano objetivo (ou qualquer coisa “objetiva”). Em um famoso debate entre o apologista cristão Greg Bahnsen e o ateu Gordon Stein, alguém perguntou por que “a Alemanha de Hitler” estava errada. Stein, representando a posição ateísta, não poderia ter dado melhor resposta ao dizer que o que Hitler fez foi contra o “consenso” moral da civilização ocidental. Basicamente, ele estava errado porque a civilização ocidental havia decidido anteriormente que comportamentos dessa natureza (por exemplo, o genocídio) estavam errados. Dentro dessa visão moral de mundo, se a decisão tivesse tomado a direção oposta por algum motivo, tudo o que foi feito pelos nazistas poderia ter sido facilmente considerado moral. Lembre-se, Gordon Stein não é um propagandista nazista da década de 1930. Ele é um estudioso americano judeu que participou de um debate na Universidade da Califórnia, Irvine, EUA, no ano de 1985. Observe que nem Stein nem os nazistas concordam com uma visão de mundo que defenda o valor intrínseco da humanidade. O conceito de Stein de moralidade determinada pela maioria tem tanta eficácia em conter o mal quanto um tigre de papel. Por fim, quem apoia essa cosmovisão moral concluirá logicamente que não há nenhuma obrigação moral objetiva de acompanhar a maioria e fará “cada qual tudo o que bem parece aos seus olhos” (ver Pv 21:2, Dt 12:8, Jz 21:25). Não é de se surpreender que governos ou indivíduos perversos vêm e vão; o que é desconcertante é que as visões centrais de mundo que os moldaram ainda podem ser ouvidas “nas mesas e nas salas de aula de cientistas e filósofos niilistas”.

Fonte: https://mais.cpb.com.br/licao/os-olhos-do-senhor-a-cosmovisao-biblica/

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