A maioria de nós já ouviu falar que exercícios, incluindo
caminhadas, geralmente ajudam a aumentar a concentração, tanto em curto como em
longo prazo. Diversos estudos mostram que animais e pessoas geralmente
apresentam desempenhos melhores em testes de memória e da função executiva – ou
seja, a capacidade de tomar decisões e organizar o pensamento – depois de se
exercitarem (embora exercícios intensos prolongados possam causar fadiga mental
temporária – o que significa que não vale a pena fazer uma prova de matemática
depois de uma maratona).
Da mesma maneira, relata-se uma conexão entre a prática de
exercícios e a criatividade. Há milênios, escritores e artistas afirmam que
suas melhores ideias surgem durante uma caminhada.
Entretanto, poucos indícios científicos dão suporte à ideia de
que os exercícios físicos ajudam a criatividade. Por isso, pesquisadores da
Universidade de Stanford decidiram recentemente testar essa possibilidade,
inspirados, em parte, por suas próprias caminhadas.
"Meu orientador e eu costumávamos caminhar juntos para
discutir os temas da minha tese", afirmou Marily Oppezzo, na época, aluna
de pós-graduação na instituição. "E um dia pensei: 'Bom, e que tal isso?
Que tal falar sobre as caminhadas, e se elas realmente têm um efeito sobre a criatividade?
'".
Com o apoio entusiasmado do orientador, Daniel Schwartz,
professor da Faculdade de Educação de Stanford, Marily recrutou um grupo de
alunos de graduação para ver se conseguiria aumentar sua criatividade.
Reunindo os voluntários em uma sala deliberadamente monótona e
sem graça, equipada apenas com uma mesa e (estranhamente) com uma esteira,
Marily pediu para que os estudantes se sentassem e fizessem testes de
criatividade, que segundo a prática psicológica podem envolver tarefas como a
criação rápida de usos alternativos para um botão de roupa, por exemplo.
Em seguida, os participantes caminhavam na esteira, a uma
velocidade tranquila, observando uma parede vazia. Enquanto faziam o exercício,
cada estudante refazia o teste de criatividade, que exigia em torno de oito
minutos.
"Para quase todos os estudantes, a criatividade aumentou
substancialmente ao longo da caminhada. A maioria deles foi capaz de gerar
cerca de 60% mais usos alternativos para um objeto e que fosse ao mesmo tempo
'novos e apropriados'", afirmou Marily em seu estudo, publicado este mês
pela revista científica The Journal of Experimental Psychology: Learning,
Memory, and Cognition.
Porém, a importância prática dessa descoberta pareceria
irrelevante, se a criatividade aumentasse apenas enquanto a pessoa caminha.
Afinal, quase ninguém pode fazer uma sessão sobre a esteira. Por isso, a
pesquisadora testou em seguida se os efeitos continuavam após a caminhada. Ela
faz outro grupo de alunos passarem por duas sessões de testes consecutivas,
caminhando durante oito minutos, enquanto davam ideias sobre o uso alternativo
de outros objetos. Depois, os participantes se sentaram e foram novamente
submetidos ao teste.
Novamente, a caminhada aumentou consideravelmente a habilidade
dos participantes de gerar ideias criativas, mesmo quando eles se sentavam
depois do exercício. Nesse caso, os voluntários que haviam caminhado
apresentaram mais ideias e com qualidade subjetiva superior, quando comparadas
aos testes realizados antes da caminhada.
Por fim, para testar outra implicação do exercício na
criatividade, Marily passou a realizar os testes em espaços abertos. A maioria
das pessoas provavelmente diria que andar em espaços abertos seria bem melhor
para a criatividade do que andar dentro de um escritório sem graça. Mas,
surpreendentemente, o estudo não confirmou a suposição. Quando os voluntários
perambularam pelo agradável campus de Stanford por cerca de oito minutos,
geraram mais ideias criativas do que quando se sentaram dentro ou fora da sala
ao longo do mesmo período de tempo. Porém, não foram mais criativos do que
quando caminharam na esteira, de frente para uma parede branca.
"Tudo indica que o que importa é a caminhada em termos do
aumento da criatividade, e não o ambiente", afirmou Marily. "Ainda
não se sabe ao certo como caminhadas curtas e casuais são capazes de alterar os
diversos processos mentais relacionados à criatividade", acrescentou.
Pode ser que elas melhorem o humor como seu efeito primário, e
que a criatividade surja com mais facilidade em uma mente tranquila. Ou então,
caminhar pode desviar a energia que seria dedicada, intencionalmente ou não,
para limitar o pensamento criativo, afirmou. "Acredito que seja possível
que as caminhadas permitam que o cérebro ganhe força. Mas, essas são apenas
algumas das muitas explicações possíveis", comentou a pesquisadora, que
brincou dizendo que provavelmente iria caminhar um pouquinho para ver se
conseguia pensar em outras teorias plausíveis e experimentos criativos.
Fonte:http://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2014/05/13/caminhar-pode-aumentar-a-criatividade-diz-estudo-americano.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário