"Guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!" Mateus 23:24
Hipérbole é uma figura de linguagem que engrandece ou diminui exageradamente a verdade. Os latinos, por natureza, são hiperbólicos, e usam com frequência expressões como: “Já falei um milhão de vezes”, “há séculos espero por esta oportunidade”, “chorou rios de lágrimas”, “ele não corria, voava”.
Todos nós sabemos que essas expressões não podem ser interpretadas literalmente. Os orientais também usam amplamente essa figura em seu linguajar diário. Como Cristo falava a linguagem do povo, em várias ocasiões usou hipérboles, para ensinar de modo enfático Suas preciosas lições. E trabalhava muito em cima de coisas absurdas, que se tornavam engraçadas e inesquecíveis para o povo comum.
Certa vez, Cristo Se referiu à incoerência dos fariseus, que eram excessivamente minuciosos e exatos em dizimar suas hortaliças, mas faziam vista grossa para com os preceitos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fé. E Cristo denunciou tal incoerência, chamando-os de “guias cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!”
É interessante notar que a hipérbole está apenas na última parte do versículo, que se refere ao camelo. A primeira parte é literal, pois os fariseus, antes de beber água, literalmente coavam os mosquitinhos que caíam na água, provavelmente passando uma peneira ou pano fino para retirá-los, para não transgredir a lei mosaica, que os proibia de comer animais imundos (Lv 11:23).
A multidão, ao ouvir isto, deve ter-se divertido bastante, imaginando um fariseu tentando engolir um camelo. E qual a lição que Cristo queria ensinar com tal figura? Que eles eram incoerentes – por um lado tinham excessivo zelo em observar os mínimos detalhes da Lei, mas, por outro, negligenciavam os seus grandes e mais importantes preceitos. Eles não tinham senso de proporção das coisas.
O mesmo espírito existe ainda hoje, pois não há nada mais fácil do que observar as exterioridades da religião, mas ser totalmente irreligioso. Muitos crentes frequentam assiduamente os cultos da igreja, são exatos na doação dos dízimos, mas não conseguem controlar o temperamento, são desonestos no trabalho, ou maltratam o cônjuge e os filhos em casa.
Precisamos ter senso de proporção das coisas, para não confundir observâncias religiosas com a verdadeira devoção. E isto só será alcançado quando Cristo reinar supremo no coração.
Fonte: Meditações Diárias 2010
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