terça-feira, 3 de novembro de 2020

A HISTÓRIA NÃO É TODO O PASSADO...

Já não há lembrança das coisas que precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, entre os que hão de vir depois. Eclesiastes 1:11




A história não é todo o passado, mas também não é tudo aquilo que resta do passado. Ou, se o quisermos, ao lado de uma história escrita, há uma história viva que se perpetua ou se renova através do tempo e onde é possível encontrar um grande número dessas correntes antigas que haviam desaparecido somente na aparência. Se não fosse assim, teríamos nós o direito de falar em memória, e que serviço poderiam nos prestar quadros que subsistiriam apenas em estado de informações históricas, impessoais e despojadas? Os grupos, no seio dos quais outrora se elaboraram concepções e um espírito que reinara algum tempo sobre toda sociedade, recuam logo e deixam lugar para outros, que seguram, por sua vez, durante certo período, o cetro dos costumes e que modificam a opinião segundo novos modelos. Poder-se-ia crer que o mundo sobre o qual, com nossos avós idosos, estamos ainda inclinados, ocultou-se de repente. Como, dos tempos intermediários entre aquele, muito anterior ao nosso nascimento, e a época em que os interesses nacionais contemporâneos se apoderarão de nosso espírito, restam-nos poucas lembranças que ultrapassam o círculo familiar, tudo se passa como se tivesse havido, com efeito, uma interl'Upção, durante a qual o mundo das pessoas idosas tenha-se apagado lentamente, enquanto que o quadro recobrir-se-ia de novos caracteres. Consideremos, todavia, que talvez não exista um ambiente, nem um estado de pensamentos ou de sensibilidade de outrora, dos quais subsistam traços, e nem mesmo impressões, ou seja. Tudo o que for necessário para recriá-lo temporariamente.(HALBWCHS, Maurice, A memória coletiva. São Paulo, SP: Revista dos Tribunais LTDA, 1990, p. 67). 

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