Meu pai sempre esteve
pronto a ajudar os que tinham fome. Ele era um evangelista que viajou
a vários lugares para realizar reuniões de avivamento. As viagens
eram caras, e o dinheiro que possuíamos era suficiente apenas para
as necessidades básicas. Um dos problemas era a maneira como as
igrejas pagavam os pastores e evangelistas naquela época. Os
pastores recebiam salário durante o ano inteiro, mas os evangelistas
eram pagos somente quando trabalhavam. Por conseguinte, a renda de
meu pai cessava abruptamente durante os feriados do Dia de Ação de
Graças, do Natal, das férias de verão ou de qualquer período em
que ele precisasse descansar.
Talvez tenha sido por
isso que o dinheiro era escasso quando ele ficava em casa. Mas isso
não impedia meu pai de ser generoso. Eu me lembro de vê-Io partir
para falar em uma igreja pequenina e voltar para casa dez dias
depois. Minha mãe o recebeu com entusiasmo e perguntou sobre o
avivamento. Ele sempre se empolgava ao falar desse assunto. Nessas
ocasiões, minha mãe o deixava falar e, depois, perguntava sobre o
dinheiro.
As mulheres têm a
mania de preocupar-se com essas coisas. “Quanto eles lhe deram?”,
ela perguntou. Tenho gravada na memória a expressão de meu pai,
quando ele sorriu e olhou para o chão. “Eu...”, ele gaguejou.
Minha mãe afastou-se e o encarou. “Ah, já entendi. Você devolveu
o dinheiro novamente, não?” “Myrtle, o pastor de lá está
atravessando um momento difícil”. Seus filhos necessitam de muita
coisa. Fiquei com o coração partido. Os sapatos das crianças estão
furados na sola e, numa dessas manhãs frias, uma delas foi para a
escola sem agasalho. Achei que devia deixar com eles os 50 dólares
que recebi.
Minha boa mãe olhou
atentamente para ele por alguns instantes e sorriu. “Se Deus pediu
a você que fizesse isso, tudo bem.” Após alguns dias, o
inevitável aconteceu. A família Dobson ficou completamente sem
dinheiro. Não havia reservas para lançarmos mão. Foi então que
meu pai nos reuniu no quarto para passarmos alguns momentos em
oração. Eu me lembro daquele dia como se fosse ontem. Ele orou em
primeiro lugar. “Oh, Senhor, tu prometeste que, se fôssemos fiéis
contigo e com teu povo em tempos de bonança, não te esquecerias de
nós em tempos de necessidade. Temos tentado ser generosos com aquilo
que nos deste, e agora estamos implorando tua ajuda.” Um menino
muito sensível de dez anos, chamado Jimmy, observou e ouviu
atentamente o que se passou naquele dia. “O que vai acontecer?”,
ele pensou. “Será que Deus ouviu a oração do papai?” No dia
seguinte, um cheque inesperado de 1.200 dólares chegou pelo correio.
Verdade! Foi assim que aconteceu, não apenas uma, mas várias vezes.
Eu vi o Senhor devolver a meu pai tudo o que ele deu aos outros. Não,
Deus não fez de nós uma família rica, mas minha fé nos tempos da
juventude aumentou consideravelmente. Aprendi que não podemos
exceder a Deus em generosidade.
Meu pai continuou a
agir da mesma maneira durante a meia-idade e depois dos 60 anos. Eu
me preocupava querendo saber como ele e minha mãe sobreviveriam após
a aposentadoria, porque o dinheiro era escasso e não podia ser
poupado. Se meu pai conseguisse muitos dólares, com certeza os
distribuiria aos necessitados. Eu me perguntava como eles viveriam
com a ninharia que era paga aos pastores e evangelistas jubilados.
Como viúva, minha mãe recebia apenas 80 dólares e 50 centavos por
meu pai ter trabalhado 44 anos na igreja.
Certo dia, meu pai
estava deitado na cama, enquanto minha mãe se vestia. Ela olhou para
ele, e ele estava chorando. “O que houve?”, ela perguntou. “O
Senhor acabou de falar comigo”, ele respondeu. “Você quer me
contar o que Ele falou?”. “Ele me falou sobre você”. Minha mãe
pediu-lhe que contasse qual foi a mensagem do Senhor. Meu pai disse:
“Foi uma experiência estranha. Eu estava deitado aqui pensando em
muitas coisas. Não estava orando nem pensando em você quando o
Senhor me disse: Eu vou cuidar de Myrtle”. Nenhum deles entendeu a
mensagem, deixando-a guardada na lista das coisas imponderáveis.
Cinco dias depois,
meu pai teve um ataque cardíaco de grandes proporções e faleceu
após três meses. Aos 66 anos de idade, aquele homem bondoso cujo
nome eu levo, descansou em Cristo, a quem ele amou e serviu durante
todos aqueles anos. Foi emocionante testemunhar a maneira como Deus
cumpriu sua promessa de cuidar de minha mãe. Mesmo quando ela estava
sofrendo em fase terminal com Parkinson e necessitando de constantes
cuidados a um custo astronômico, Deus a sustentou. A pequena herança
que meu pai deixou a sua esposa multiplicou-se nos anos após sua
partida. Foi suficiente para pagar tudo o que ela necessitou,
inclusive os incessantes cuidados de que precisava. Deus também
esteve com ela de outra maneira, carregando-a e protegendo-a em seus
braços até o dia em que a levou consigo. Em suma, meu pai nunca
chegou perto de exceder a generosidade de Deus!
James Dobson
Nenhum comentário:
Postar um comentário