E
não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que
estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir
entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos
animais? Jonas
4:11
Dentre
os livros proféticos, o livro de Jonas é um dos que mais está
relacionado ao recurso literário da ironia.
Dentre
a soma de ironias figura-se, por exemplo: 1) a ironia do homem de
DEUS, o profeta, tentar fugir de sua incumbência; 2) a ironia dos
marinheiros do navio no qual Jonas embarca, aparentemente terem mais
temor a DEUS do que o próprio Jonas; e 3) a ironia do profeta de
DEUS que se ira ao ver o povo se arrependendo.
Uma
outra ironia que parece permear toda a narrativa apresenta a terra e
seus habitantes não-humanos como testemunhas divinamente designadas
e como agentes de juízo para o profeta.
Supostamente,
o profeta deveria ser o mediador das mensagens divinas. Comumente é
o profeta quem é capaz de sofrer por ver o mundo de maneira mais
ampla, através da perspectiva divina. Contudo, no livro de Jonas,
algumas criaturas designadas por YHWH como: o peixe (2:1); a planta
(4:6) e o verme (7) tomam o papel do profeta. É como se as criaturas
não-humanas, ocupassem o lugar de Jonas como mediador das mensagens
divinas, tornando, assim, a ironia ainda mais aguda.
Por
fim, esta ironia central quanto ao papel profético, parece
relacionada ao que Jonas sabia que poderia acontecer caso obedecesse
ao comando divino. Em Jonas 4:2 lemos: “E orou ao SENHOR e disse:
Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha
terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és
DEUS clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em
benignidade, e que te arrependes do mal.”
Como
ficaria a reputação de profeta de Jonas caso ele dissesse que a
cidade seria destruída em 40 dias e ela não fosse destruída?
Aqui
vemos uma sutileza no jogo de palavras em hebraico. O sermão de
Jonas é: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida”
Ocorre que a palavra traduzida como “subvertida”, הפך (hapak),
pode significar “subverter” ou “derribar” (como no caso de
Sodoma e Gomorra: Gênesis 19:21, 25, 29), mas também “reverter”,
“tornar” ou “converter” (como em Jeremias 31:13, cf. Dt
23:5). Então, depois de 40 dias, Nínive seria subvertida ou mudaria
de direção; em outras palavras, ela seria destruída ou convertida?
Será que a profecia de Jonas se cumpriu ou não?
Independentemente
das surpresas provocadas pelas ironias do livro de Jonas, vemos
claramente que o anúncio de juízo é, na verdade, uma oportunidade
de arrependimento.
Assim,
ironicamente, o livro termina sem um fim. Após a planta que protegia
o profeta do sol se secar, Jonas pede a morte a DEUS. Como resposta,
DEUS diz: “Tens compaixão da planta que te não custou
trabalho, a qual não fizeste crescer, que uma noite nasceu e numa
noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de
Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem
discernir entre a mão direita e a esquerda, e também muitos
animais?”
Fonte:
http://terceiramargemdorio.org/texto/89/
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