E,
se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás cortar. Lucas
13:9
É
como diferente da atitude de Jonas com relação aos Ninivitas que
percebemos a parábola da figueira estéril (uma parábola pouco
lembrada dentre as várias narradas por Jesus). Em Lucas 13:6-9,
lemos: “Então, Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem
tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto
nela, não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho
procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que
está ela ainda ocupando inutilmente a terra? Ele, porém, respondeu:
Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e
lhe ponha estrume. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás
cortá-la.”
Essa
parábola é contada por Jesus pouco tempo antes dele fazer sua
entrada triunfal em Jerusalém. Dentre as inúmeras lições dessa
parábola, uma bem clara e que se relaciona com a misericórdia
divina apresentada em Jonas é: não interessa qual for a figueira,
ela merece mais tempo. Numa época em que, principalmente em alguns
ambientes religiosos, muitas pregações parecem enfatizar os atos e
hábitos que todos os fiéis devem cumprir –de acordo com a
determinação do pregador, o que ele determinar, no tempo que ele
determinar– essa parábola nos diz: dê mais tempo.
Além
disso, contrária à nossa tendência de querer resolver problemas
espirituais por amputação, a parábola diz: “ponha estrume”.
Diferentemente do discurso daqueles que se consideram os
“intermediários” do dono da figueira dizendo que “temos de
cortar o mal pela raiz”, a intervenção do trabalhador da figueira
surge com um único propósito: pedir mais tempo. Nada há de
glamoroso no esterco. Esterco não é um reparo rápido. Não
apresenta resultados imediatos. Pelo contrário, pode demorar muito
tempo para que alguma diferença se faça visível. Agora, se nosso
foco forem resultados imediatos e visíveis, derrubar a árvore é a
solução. Limpamos o terreno e preparamos o quadro para um novo
começo. O problema é que gostamos tanto de começos que, muitos
vezes, ficamos apenas nos começos; afinal, eles nos dão muitas
alegrias. Já espalhar esterco, cultivar ambientes que promovam
crescimento e, por fim, possibilitam os frutos verdadeiros –a seu
tempo– não traz consigo nenhum tipo de alegria imediata. Não é
um trabalho que impressiona. Esterco é uma solução lenta.
Contudo,
apesar do esterco ser lixo, refugo, todos sabem que esses resíduos
aparentemente mortos e desprezados estão eivados de vida. O esterco
é o material da ressurreição, do renascimento, da restauração.
Um
dos textos lidos no dia do Yom Kippur (Dia do Juízo) é o de Isaías
58. Nesse dia, segundo Isaías, o povo estava jejuando e perguntando
a DEUS: “Porque jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Porque
afligimos nossa alma, e tu não o levas em conta?” (verso 3). E a
resposta de DEUS é bem clara: “Porque no dia em que jejuais,
cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça o vosso
trabalho”. Na sequência, o texto afirma que o verdadeiro jejum que
DEUS espera, envolve: afligir da alma, soltar as ligaduras da
impiedade, desfazer as ataduras da servidão, libertar os oprimidos,
recolher os desabrigados, cobrir o nu, e ironicamente, dividir o pão.
As instruções divinas são nítidas, o jejum verdadeiro envolve não
somente uma auto avaliação, mas também o que faço com os
resultados dela. Nesse dia, ao olhar para mim e ver honestamente quem
sou, ver a verdadeira desgraça escondida no meu interior, isso deve
mudar minha atitude para com o outro. E o resultado disso não
poderia ser outro a não ser misericórdia. Dentre vários aspectos,
o jejum de Isaías faz com que eu julgue também minhas atitudes, e
ao julgá-las, enxergo que, apesar de qualquer coisa que eu faça,
não cabe a mim julgar a vida do outro; pelo contrário: minha
atitude deve ser a de mediador, como a do trabalhador da parábola,
dizendo: Dê mais tempo.
Fonte:
http://terceiramargemdorio.org/texto/154/
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