O
escritor francês, do período do Renascimento, François Rabelais no texto
seguinte revela uma crítica aos homens ao Clero da Igreja Romana, com inúmeros
neologismos: “(A ilha era habitada por pássaros) grandes, belos e polidos, em
tudo semelhantes aos homens, dormindo como homens... Vê-los era uma bela coisa.
Os machos chamavam-se clerigaus, monagaus, padregaus, bispogaus, cardealgaus e
papagau – este era o único da sua espécie... Perguntamos por que havia só um
papagau. Responderam-nos que... dos clerigaus nascem o padregaus... dos
padregaus nascem os bispogaus, destes os belos cardegaus, e os cardegaus, se
antes não os leva a morte, acabam papagau, de que ordinariamente não há mais
que um como no mundo existe apenas um sol... Mas donde nascem os cleriguas?... –
Vêm dum outro mundo, em parte de uma região maravilhosamente grande, que se
chama Dias-sem-pão, em parte doutra região Gente-demasiada... A coisa passa-se
assim: quando, nalguma família desta última região, há excesso de filhos,
corre-se o risco de a herança desaparecer, se for dividida por todos; por isso,
os pais vêm descarregar nesta ilha Corcundal os filhos a mais... Dizemos “Corcunda!”porque
esses que para aqui trazem são em geral corcundas, zarolhos, coxos, manetas,
gotosos e mal-nascidos, pesos inúteis na terra... Maior número ainda vem
Dias-sem-pão, pois os habitantes dessa região encontram-se em perigo de morrer
de fome, por não ter com que se alimentar e não saber nem querer fazer nada,
nem trabalhar em arte ou ofício honesto, nem sequer servir a outrem... ou cometeram
algum crime que poderá levar à pena de morte... então voam para aqui, tomam
aqui este modo de vida, e subitamente engordam e ficam em perfeita segurança e
liberdade”.
É
bom refletir que, nesta crítica de Rabelais ao Clero, toda coincidência pode
ser uma mera semelhança com suas conclusões.
JCML
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