Em
1992, foi a vez de os "caras pintadas" irem às ruas exigir o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Deu
certo. Collor saiu. Mas as coisas mudaram para melhor? Houve mais investimentos
nas tão faladas áreas da educação, saúde e segurança? A justiça social, a justa
distribuição de renda e a integridade/honestidade política passaram a ser
realidade? Pelo contrário. Com o escândalo do mensalão (2005/2006), ficou
evidente que os homens e as mulheres que regem este país (com raríssimas e
nobres exceções) são “farinha do mesmo saco”. Aqueles que em nossa juventude
defendemos com discursos inflamados e para os quais demos nosso precioso voto
agora estão aí fazendo quase nada do que prometeram.
Manifestação que organizamos em 1990, em Criciúma, SC |
O objetivo do nosso protesto foi mostrar simpatia à causa dos professores |
Sim,
é
emocionante ver as multidões nas ruas exigindo seus direitos (embora
muitos
nem saibam exatamente quais nem dependam tanto deles, por fazerem parte
da
classe média que quase nem toma ônibus). Impressiona ver despertado um
poder de mobilização que parecia não existir (e o povo tem mais é que se
manifestar contra o desgoverno dos políticos). Mas a falta de
organização também é gritante.
Protestam contra os gastos com a Copa depois de os estádios terem sido
construídos e bilhões de reais terem evaporado. Por que não protestaram
quando
algo poderia ter sido feito? Vão fazer o que agora, demolir os coliseus
do pão
e circo modernos? Protestam contra a corrupção, mas votam nos
protagonistas dos
escândalos e das maracutaias. Protestam contra a Globo, mas são as
mesmas
pessoas que garantem os altos índices de audiência da emissora que leva
ao ar suas
novelas alienantes e os big brothers
da vida.
A
edição do Jornal Nacional de ontem, para mim, foi uma boa representação do
coração dividido desta nação. Enquanto Patrícia Poeta e repórteres de rua davam
informações sobre os protestos em várias capitais do Brasil, William Bonner
estampava um sorriso anacrônico, sem graça ao falar sobre a Copa das Confederações.
Fale-me sobre as revoltas, mas não deixe de me entreter com meu futebolzinho.
As duas principais pautas do JN de ontem não tinham “liga”, exatamente como não
se ligam o Carnaval, o “jeitinho brasileiro” e a idolatria futebolística com
esses ares de mudança que nunca chegam, porque o que se vê nas ruas depois
passa e tudo volta ao “normal” (espero sinceramente estar errado, desta vez). Onde estarão daqui a cinco, dez, vinte anos esses
estudantes que tomaram as ruas com seus cartazes? Estarão vestidos com seus ternos
de grife em escritórios climatizados em busca do “vil metal” ou, quem sabe,
escrevendo algum texto desiludido num blog qualquer?
Bem,
antes que você pense que estou na segunda categoria, deixe-me dizer-lhe que, em
1990, eu não fazia ideia de que o Grande Conflito é muito maior do que as
pessoas imaginam. Nossa luta não é simplesmente contra a corrupção e as injustiças sociais, por mais legítimo que seja isso. Eu não
imaginava que a verdadeira batalha não é travada nas ruas, mas no coração das
pessoas. E enquanto esse coração não for rendido Àquele que pode recriar
(porque “retoques” não resolvem nada), manifestações e mais manifestações se
seguirão e as coisas permanecerão basicamente as mesmas.
Mais de vinte anos após aquela manifestação singela de estudantes sonhadores em Criciúma, continuo inconformado com as injustiças do mundo. Mas hoje sei a que Autoridade recorrer.
(Michelson Borges, um
jornalista desencantado com este mundo, mas encantado com o que virá)Mais de vinte anos após aquela manifestação singela de estudantes sonhadores em Criciúma, continuo inconformado com as injustiças do mundo. Mas hoje sei a que Autoridade recorrer.
"Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. [...]
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o
reino dos céus" (Mateus 5:6, 10).
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